Cirurgia Ambulatorial

Muito além de pequenos procedimentos em ambiente extra-hospitalar, trata-se de uma estratégia de cuidado multidisciplinar e que tem o paciente como foco.

Cirurgias ambulatoriais são aquelas realizadas sem que o paciente seja internado em um hospital. Não se confunde com o conceito de pequenas cirurgias, comumente realizadas em consultórios, em estruturas físicas por vezes rudimentares.

Apesar da aparente simplicidade, é um conceito bem mais amplo. Relaciona-se a um conjunto de protocolos clínicos, técnicas cirúrgicas e anestésicas, estruturas físicas e ambientes específicos, bem como modernas ferramentas de gestão.

São estratégias em saúde que têm por objetivo propiciar melhores resultados clínicos e segurança, com racionalização de custos.

Afinal, grande parte dos pacientes cirúrgicos não necessitam das dispendiosas e complexas estruturas hospitalares de apoio, como lavanderia, farmácia ou UTI. Mas não podem abrir mão da segurança e qualidade dos equipamentos anestésicos e cirúrgicos e do conforto de uma recuperação assistida, em casa.

A Cirurgia Ambulatorial moderna remonta ao princípio do século XX, com a publicação por James Henderson Nicoll (foto) dos resultados bem-sucedidos de quase nove mil operações em crianças, no Royal Hospital for Sick Children, em Glasgow – Escócia. Por seu pioneirismo, Nicoll é hoje mundialmente considerado o pai da Cirurgia Ambulatorial.

No entanto, o conceito atualmente empregado internacionalmente surgiu nos EUA, em 1970. A partir de meados dos anos 90, experimentou uma grande expansão nos sistemas de saúde europeus. Mais recentemente, tem sido adotada com crescente sucesso em países asiáticos e mesmo em alguns países africanos.

Os esforços internacionais de implementação da Cirurgia Ambulatorial encontram grande respaldo na IAAS – Associação Internacional para Cirurgia Ambulatorial, sediada na Bélgica e instituída em 1995.

A consolidação da estratégia da Cirurgia Ambulatorial acompanha a observação de que a escalada da complexidade dos procedimentos moldou a estrutura hospitalar contemporânea às crescentes demandas tecnológicas e organizacionais de procedimentos de alta complexidade e elevado custo, como transplantes de órgãos, cirurgias robóticas e grandes procedimentos oncológicos.

Até cerca de 80% de todos os procedimentos atualmente realizados em centros cirúrgicos hospitalares poderiam ser realizados em um centro cirúrgico ambulatorial, mesmo fora de um hospital, com vantagens. Logo, o conceito de Cirurgia Ambulatorial está fortemente ligado ao de desospitalização.

Portanto, é cada vez mais urgente equilibrar melhores desfechos clínicos, menores riscos, custos mais baixos e maior segurança, com a conveniência e o conforto de uma recuperação assistida, no domicílio do paciente.

Portanto, a Cirurgia Ambulatorial se faz em ambientes cirúrgicos adequadamente equipados e com equipes multidisciplinares dedicadas especificamente aos pacientes ambulatoriais. É também fundamental que haja protocolos bem definidos, com critérios clínicos e sociais para admissão dos pacientes, um circuito específico para o paciente ambulatorial e vinculação das equipes, pacientes e seus cuidadores.

Estratégias e programas de Cirurgia Ambulatorial podem ser realizados em hospitais ou fora deles, uma vez que estruturas hospitalares de apoio como UTIs, lavanderia, farmácia, engenharia clínica e refeitório podem ser terceirizados ou mesmo dispensados para atender aos pacientes ambulatoriais.

E é importante ressaltar que um bom programa de Cirurgia Ambulatorial deve incluir não apenas procedimentos médico-cirúrgicos, mas todos aqueles procedimentos de saúde que necessitam de estrutura física típica de um centro cirúrgico, mas cujos pacientes não requeiram pernoite hospitalar. É o caso também de procedimentos odontológicos, endoscópicos e mesmo neurológicos, como eletroconvulsoterapia, por exemplo.

Portanto, é um modelo que se propõe a oferecer aos pacientes a estrutura física e humana típicas de um centro cirúrgico hospitalar, mas apenas na justa medida de suas necessidades. Buscam-se evitar internações hospitalares dispendiosas e desnecessárias ao passo em que se garantam conforto, conveniência, acessibilidade e, sobretudo, segurança aos pacientes.

Vamos juntos contribuir para a implementação da cultura da cirurgia ambulatorial no âmbito público e privado, em todo território nacional.

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